#ClinicExplica: Luto de pessoas vivas e por que falar sobre ele?

Quando ouvimos falar de luto, geralmente pensamos na morte de uma pessoa querida. No entanto, existe um outro tipo que não envolve a perda de alguém falecido, mas sim de algo significativo na vida de uma pessoa: o luto de pessoas vivas ou luto ambíguo.

Foi a psicóloga Pauline Boss que desenvolveu este conceito, o qual se aplica a diversas situações de perda sem encerramento claro.

Tal sentimento vai além da perda de uma pessoa. Ele engloba diferentes formas de perda – sejam elas relacionadas a papéis sociais, identidade, trabalho, ou até mesmo àquela causada por desastres naturais. Continue lendo para entender mais sobre o assunto.

O que é luto de pessoas vivas ou luto ambíguo?

O luto de pessoas vivas ou luto ambíguo ocorre quando há uma perda sem encerramento definitivo. Nele, a incerteza sobre o que foi perdido deixa a pessoa em um estado constante de dúvida e dor emocional. Isso pode incluir:

1. Perda de papéis e identidades: Pode acontecer quando uma pessoa perde o emprego, se aposenta, ou enfrenta uma mudança drástica em sua vida, como após uma separação. Nesses casos, a pessoa pode sentir que perdeu parte de si mesma, sem saber como reconstruir sua identidade.
2. Perda física e material: Quando uma casa ou um bem material importante é destruído por uma catástrofe natural, como um terremoto ou um incêndio, as pessoas sentem não apenas a perda do bem material, mas também de um senso de segurança e estabilidade.
3. Perda de saúde: Indivíduos que enfrentam doenças crônicas ou que passam por mudanças físicas graves, como em casos de acidentes, podem experimentar o luto ambíguo, já que perderam capacidades físicas ou cognitivas que antes definiam sua qualidade de vida.
4. Perdas emocionais e relacionais: A perda de uma pessoa que está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente, como em casos de Alzheimer ou dependências químicas, também gera um luto ambíguo. Os familiares e amigos vivenciam a sensação de perda, mas sem a concretude de uma morte física.

Por que o luto de pessoas vivas é tão desafiador?

O que torna este sentimento tão doloroso é a ausência de um fim claro. Se no luto tradicional, apesar da dor, há um momento de fechamento, como o funeral ou a despedida, no luto ambíguo, não há uma linha de chegada clara. Essa situação gera um conflito emocional constante entre a esperança de que as coisas melhorem e a dor de lidar com a perda.

Uma vez que isso ocorre, outros sentimentos podem surgir, como:

• Confusão: Não saber ao certo o que foi perdido e se a situação pode ser revertida.
• Ansiedade: A sensação constante de que algo está “fora do lugar” e a incerteza sobre como proceder.
• Culpa: Muitas vezes, as pessoas se sentem culpadas por não conseguirem “superar” essa perda, já que ela não é clara ou definida.

Exemplos em diferentes contextos

Aqui estão alguns cenários onde esta situação pode ocorrer:

• Mudança de identidade após um acidente: Uma pessoa que perde a mobilidade em um acidente, por exemplo, pode passar por um luto pela identidade ativa e independente que tinha antes, sentindo que perdeu uma parte importante de quem era.
• Perda de um emprego ou status social: A perda de um trabalho importante, seja por demissão ou aposentadoria, pode gerar um luto profundo, pois a pessoa sente que perdeu não apenas o emprego, mas também sua função social e propósito.
• Desastres naturais: Quando uma família perde sua casa devido a um desastre natural, a perda não é só material, mas também emocional. A casa representa segurança, pertencimento e memórias, e essa perda pode gerar um luto ambíguo, já que a sensação de lar não pode ser facilmente recuperada.

Como lidar com o luto de pessoas vivas?

Pauline Boss, a psicóloga que desenvolveu o termo, sugere algumas formas de lidar com esse tipo de sentimento:

1. Reconhecer e aceitar a incerteza: Entender que a perda não tem um fim claro ajuda a aliviar a pressão de buscar um encerramento imediato. É preciso aceitar que algumas perdas podem nunca ser completamente resolvidas.
2. Buscar apoio emocional: Terapia ou grupos de apoio podem ajudar a processar as emoções e a aprender a conviver com a ambiguidade da perda. O luto ambíguo requer ferramentas específicas para lidar com a dor prolongada e a incerteza.
3. Redefinir metas e identidades: Encarar a perda como uma oportunidade de redefinir papéis e identidades pode ajudar a pessoa a reconstruir sua vida de forma positiva, mesmo em meio à incerteza.

Busque sempre cuidar de si e ter ajuda à disposição

O luto ambíguo ou luto de pessoas vivas é uma experiência emocionalmente complexa, mas que ocorre com mais frequência do que imaginamos. Ele pode estar presente em perdas de entes queridos, mas também na perda de papeis sociais, saúde ou segurança.

Reconhecer esse luto e cuidar de si mesmo são passos essenciais para a superação do sofrimento. Formas de cultivar seu bem-estar, como reunir-se com pessoas queridas, conectar-se com a natureza, ter momentos de lazer e praticar atividades físicas podem ser situações que aliviam o cotidiano.

Se você está passando por uma dessas situações de perda, buscar ajuda é importante para saber enfrentá-la. É por isso que a ClinicMais traz informações sobre esse sentimento. Mesmo que o luto ambíguo possa não ter um encerramento claro, ainda é possível encontrar formas de seguir adiante.